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sexta-feira, 27 de junho de 2014

Complexo de tubarão

Tenha, amigo, muito cuidado com o que dizes. Sempre aparecerá alguém insignificante distorcendo tuas palavras - e terás a teoria que a pessoa tem dificuldades mentais, mas não tem. Esse é o mundo onde vivemos: todos são vítimas mesmo não sendo, são porque querem ser e cada um de nós é o que quiser. Pena que uma boa parte escolhe ser uma merda. Quem sabe na próxima vida, quem sabe. E é no meio desse mar de gente que te sentes perdido numa ilha e buscando no que se agarrar, no que fazer para sobreviver até o resgate. Mas pode ser que o resgate nunca venha e aí terás que aprender a nadar com os golfinhos. Ou tubarões. Que seja. 
Aliás, tem gente que possui complexo de tubarão: não pode sentir cheiro de sangue que encontra o ferido. Calma, eu explico. A pessoa não é um vampiro, assim espero. É apenas alguém que vê alguém caído e chega para fazer o estrago. Se alimenta da dor alheia para se sentir melhor com a sua. Mas não consegue, pois não é possível. Só é possível melhorar a sua dor amenizando a dos demais. Ah e é tão bom ajudar alguém, abraçar, dar conselhos. Às vezes o máximo que podemos fazer é ouvir o desabafo, mas para quem desabafa, isso já é muito porque ninguém se interessa pela dor alheia. E aí que os laços se fortalecem, amizades nascem ou se enraízam e, quando precisares, terás alguém para te socorrer. E não tem como não amar quando isso ocorre, não tem como não confiar. 
Mas essa gente que possui complexo de tubarão não consegue amizades - deve ser porque devora as vítimas. E quando consegue, é apenas outra pessoa com esse mesmo problema. E, pasmem, nenhuma ajuda a outra com sua dor, só faz a dor virar ódio e ter vontade de fazer mais vítimas. Qualquer pessoa é alvo "e ninguém está salvo" - como diria Humberto Gessinger. Eu imagino o diálogo entre dois tubarõezinhos humanos, de verdade. Deve ser deprimente. Cada um compartilha a raiva que sente dos demais e aprofunda as cicatrizes agora quase impossíveis de desaparecer. 
Então você me pergunta se já tentei ajudar um tubarão. E a resposta é sim, mas obviamente saí ferida. É, eu não sabia que era um tubarão. É o risco que se corre. De início eles se disfarçam de golfinhos super fofos e ganham tua confiança. Por isso, cuidado. Só fale de suas dores se tiver mais ou menos certeza de que você e elas não virarão comida de peixe. 

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